A exposição ‘Claudia Andujar – A Luta Yanomami’ é a nova e urgente mostra do trabalho da fotógrafa Claudia Andujar, em cartaz no IMS Paulista, um dos melhores endereços para amantes de fotografia em São Paulo.

As mais de 300 imagens da fotógrafa e ativista flutuam pelas galerias que ocupam os dois últimos andares do Instituto Moreira Salles. Elas são uma pequeníssima – porém importantíssima – parte de um acervo fotográfico que se confunde com a própria missão de vida de Andujar: conhecer, entender e proteger o povo Yanomami.

A Luta Yanomami: exposição urgente de Claudia Andujar no IMS Paulista, em SP

Mais urgente que nunca, a história dos povos originais do Brasil precisa ser contada e recontada e contada novamente para que possamos entender a necessidade de proteger aqueles que já estavam por aqui antes de nós.

Neste contexto, a exposição ‘Claudia Andujar – A Luta Yanomami’ se transforma, ao mesmo tempo, em grito de socorro, dicionário e um poema. Você não vai perder, né?!


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Claudia Andujar

A fotógrafa e ativista suíça Claudia Andujar, que cresceu na Romênia, morou na Hungria e fugiu durante a 2a Guerra, dedicou grande parte de sua vida a viagens para o norte do Brasil. Veio morar no Brasil em 1955, com 24 anos. Sem falar português, usou a fotografia como um instrumento de comunicação e entendimento da nova nação. Passou a trabalhar como fotojornalista para revistas brasileiras e estrangeiras e aconselhada pelo amigo Darcy Ribeiro, resolveu conhecer os povos originários do Brasil. Primeiro conheceu a etnia Karajá, depois os Bororos.

O encantamento por esses povos a levou até a Amazônia. Em 1971 pisou pela primeira vez em uma área Yanomami. A viagem foi a centelha para a vontade de conhecê-los a fundo, entender quem eles eram como povo, e usar a fotografia como ferramenta e forma para documentar esse fascínio.

A Luta Yanomami: exposição urgente de Claudia Andujar no IMS Paulista, em SP

Em 1978 foi enquadrada na lei de Segurança Nacional pelo desgoverno militar e foi expulsa do território Yanomami pela Funai. De volta a São Paulo, começou a lutar ativamente pela demarcação das terras Yanomami, que aconteceu em 1992, às vésperas da Rio 92.

Hoje, com 87 anos, é uma das mais reconhecidas fotógrafas brasileiras. Seu trabalho ecoa como inspiração e denúncia de anos e anos de genocídio cruel e bárbaro. Como a própria Claudia diz: a luta não acabou. É preciso lutar por aqueles que são os verdadeiros donos do Brasil! Veja o vídeo e escute a própria Claudia contando sobre a sua historia.

A Luta Yanomami: nova exposição de Claudia Andujar no IMS

A exposição está incrível e vai muito além da óbvia beleza expográfica do IMS. As mais de 300 obras, entre fotografias – feitas entre 1971 e 1977 -, desenhos, documentos pessoais de Andujar e uma fortíssima instalação audiovisual, retratam a história e a luta do povo Yanomami.

A exposição é dividida em duas partes. E se você quer meu conselho, comece pelo 8o andar.

» A Luta Yanomami | Parte 1

As imagens expostas na Galeria 3, no oitavo andar, apresentam aos olhos e ao coração o cotidiano na floresta. As imagens são poesia para os olhos e nos guiam por um mundo mágico, diferente de tudo.

A Luta Yanomami: exposição urgente de Claudia Andujar no IMS Paulista, em SP

Ao lado das fotos, pequenas anotações, contam histórias e desvendam sentimentos e sensações da própria fotógrafa. Essas anotações dão corpo à narrativa de fotos e apresentam relatos e sentimentos de quem viveu profundamente a realidade Yanomami.

Em uma dessas ‘anotações’, Claudia conta que o fotômetro da câmera parou de funcionar por conta da umidade da floresta. Andujar passa então a fotografar com uma grande angular e filme ASA 3.200.

A Luta Yanomami: exposição urgente de Claudia Andujar no IMS Paulista, em SP

A Luta Yanomami: exposição urgente de Claudia Andujar no IMS Paulista, em SP

Em outra reflexão, Andujar acerta o alvo quando diz que: “Fotografar é processo de descobrir o outro e, através do outro, si mesmo. No fundo, por isso o fotógrafo busca e descobre novos mundos, mas acaba sempre mostrando o que tem dentro de si”. E não é mesmo?!

A Luta Yanomami: exposição urgente de Claudia Andujar no IMS Paulista, em SP


Você gosta de fotografia?! Já conhece a série Fora de Foco?!


» A Luta Yanomami | Parte 2

A segunda parte da exposição, no 7o andar (Galeria 2), é mais tensa e pesada. As imagens expostas aqui mostram as consequências trágicas das políticas de desenvolvimento da Amazônia adotadas durante o período da ditadura no Brasil.

A Luta Yanomami: exposição urgente de Claudia Andujar no IMS Paulista, em SP

Durante a ditadura militar, o desgoverno brasileiro resolveu promover uma (re)colonização amazônica, que se iniciou com a construção da BR-210, rodovia que cruzava as terras Yanomami.

Sem respeitar os ‘donos originais’ da terra, as obras começaram e trouxeram as doenças dos brancos. Os índios, sem imunidade, não resistiram. Dezenas de comunidades indígenas foram dizimadas. Quem não morreu foi forçado a trabalhar em condições de escravidão.

A Luta Yanomami: exposição urgente de Claudia Andujar no IMS Paulista, em SP

Quando o difícil projeto de construção da rodovia foi abandonado, o estrago já estava feito e os garimpeiros já haviam invadido as terras Yanomami em busca de ouro. Claudia Andujar presenciou e documentou de perto a tragédia.

A Luta Yanomami: exposição urgente de Claudia Andujar no IMS Paulista, em SP

Marcados

Foi neste contexto de invasão e extermínio que Claudia Andujar começou a viajar pelas aldeias fotografando o ‘cadastro de vacinas’.

Como os Yanomami não tinham nomes oficiais para o desgoverno militar, eles eram fotografados com números que ‘correspondiam a sua indentidade’. Estes retratos deram origem a série Marcados, que faz um paralelo entre estas comunidades e a própria história da fotógrafa e sua família, dizimada pelo Holocausto.

Eu já conhecia essa série incrível de uma visita anterior ao Inhotim. Não sei se você sabe, mas uma das galerias mais recentes do Inhotim é dedicada ao trabalho de Claudia Andujar com os Yanomamis. Simplesmente imperdível!

A Luta Yanomami: exposição urgente de Claudia Andujar no IMS Paulista, em SP


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Genocídio do Yanomami: morte do Brasil

Outro grande destaque da exposição de Claudia Andujar no IMS é uma nova versão do manifesto audiovisual Genocídio do Yanomami: morte do Brasil, de 1989.

Não vou falar muito sobre ele para deixar a curiosidade te levar até o IMS para vê-lo ao vivo e em cores, hein?!

Onde, quando e quanto?

A exposição ‘Claudia Andujar – A luta Yanomami fica em cartaz até 7 de abril de 2019, no IMS Paulista.

A visitação é gratuita e o IMS funciona de terça a domingo, das 10h às 20h. Quintas, exceto feriados, das 10h às 22h.


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Onde ficar em São Paulo

Uma dos melhores lugares para se hospedar em São Paulo é justamente a região da Avenida Paulista, nos arredores do IMS.

Opções de hospedagem com bons preços na Paulista, são: Ibis São Paulo Paulista, Ibis Budget SP Paulista (na Consolação) e Ibis Budget SP Paraíso, lá na outra ponta da Paulista.

Se quiser de hospedar em uma região diferente da cidade, recomendo os bairros de Pinheiros e Vila Madalena, dois bairros cheios de coisas divertidas pra fazer!


Para saber tudo sobre onde se hospedar em São Paulo, leia nosso Guia completo de onde ficar em SP por regiões.


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Viajante, fotógrafa e bióloga. Largou tudo e ganhou tudo ao mudar de rumo em 2012 depois de defender um doutorado em biologia molecular na USP. Desde então vive, viaja e trabalha com foto e vídeo, sua verdadeira vocação. Ama viajar fora do esquema turistão e gosta mesmo é de paisagem humana!

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